Pensei muito se faria esse “especial autismo – 02 de abril” voltado para a Educação Física e suas ramificações, ou se eu expressaria minha experiência pessoal… e cá estou, madrugada de quinta para sexta escrevendo sobre minha experiência, não como professora apenas mas como tia de uma pessoa extraordinária: Álvaro Carlos, meu sobrinho.
Álvaro recém fez 06 anos dia 27/03, e o seu nascimento foi um dos melhores dias da minha vida, e onde percebi que eu poderia amar sim à primeira vista. Um parto um pouquinho cedo, coisas de dias, uma família parada na frente do vidro da maternidade, uma tia que cantarolou por 6 dias anteriores “For Your Babies – Simply Red” imaginando essa criança, e ele chegou.
Mas quando vem uma criança, não sabemos se seremos pais, primos, tios, avós de um médico, advogado, professor, autista… e soubemos disso exatos 9 meses depois… Aproximadamente 9 meses após seu nascimento, já tínhamos a certeza do autismo laudado.
Minha irmã, profissional da saúde também, enfermeira com vasta experiência e mãe dele, se vira um dia para mim e me diz que Álvaro era autista. Brigamos. Disse que era uma atitude precipitada falar isso, e ela gentilmente me disse: “tudo bem se ele for, eu percebi porque ele sorri pouco, e não me olha nos olhos…” relutei, mas de fato, são características que depois, a professora e não a tia, ensinará mais abaixo.
O DIAGNÓSTICO
Já havia a desconfiança da minha irmã, mas uma emergência de saúde levou e trilhou o caminho para bons profissionais que diagnosticaram, e cujo as intervenções foram rápidas. Autismo não tem ainda um fator, assim como a Síndrome de Down não possui explicação exata da Trissomia do Cromossomo 21, o autismo também não tem causa ou detalhes de como acontece… se é pelo período embrionário, fatores externos, medicações… há um grande mistério. Álvaro realizou o DNA do X Frágil na Universidade de São Paulo, recomendado por seus neurologistas, laudos e páginas investigativas mas sem causa específica. Apenas acontece.
Álvaro após sua condição de saúde que nada teve a ver com o autismo, mas que de certa forma o direcionou até os profissionais certos, passou e passa até hoje na APAE, tem Terapia Ocupacional e Psicóloga, ele também começou a nadar muito cedo (exercícios físicos fazem muito bem), ou seja, foi muito bem assistido mas sabemos que não é a realidade na maioria.
ATENDIMENTO ESPECIALIZADO
Autistas possuem direitos que devem ser explanados e divulgados, desde benefícios financeiros até educacionais, e é sobre isso que a matéria “Especial Autismo – 02 de abril” abordará agora nos tópicos a seguir:
- Transporte público: é direito do autista portar passe livre no transporte público, verifique o CRAS de seu município;
- Acompanhante: em consultas médicas, atendimento ambulatorial, o acompanhante pode e deve permanecer.
- Auxílio financeiro: verifique as condições no site do Governo Federal clicando aqui;
- Atendimento Educacional Especializado: é direito do aluno com necessidades educacionais especiais, o pleno atendimento em turno ou contraturno escolar pelo docente do AEE, não apenas autistas mas alunos com superdotação, limitações físicas temporárias e etc, possuem tal direito e a escola recebe por isso.
- Sobre esse último tópico, me aventurei depois de dois anos do nascimento do Álvaro no AEE… o intuito, era conviver com alunos diversos e sair de minha zona de conforto, e acreditem: foi uma bênção mas também devastador
(pois ao conhecer os direitos do aluno e os deveres da escola, vi que muito negligenciou com o Álvaro, a tal ponto de eu denunciar, brigar e até afastar de minha irmã quando estourei na unidade escolar em questão e denunciei na ouvidoria pública, mas não é caso para essa matéria ou algo a ser explanado).
O AEE, desde o ensino púbico ao privado é obrigado a oferta pela escola, e esse atendimento faz toda a diferença. Nunca devemos dizer aluno deficiente, aluno de inclusão… aluno é aluno, e o autista merece equidade.
10 CURIOSIDADES E INFORMAÇÕES SOBRE O AUTISMO
- A pessoa não está com autismo, ela é. Importante dizer corretamente, pois autismo não é algo contagioso, logo ele é, não está;
- Nem todos não gostam de afeto, isso não é regra;
- Autismo não possui graus… possui tipos e níveis (por favor, grau é outra coisa completamente diferente de nível), e também o que ocorre são outras patologias ou alguma síndrome dentro do quadro geral da pessoa;
- O movimento das mãos se chama flap, são comuns para expressar alegria e/ou frustração;
- Autistas são literais, levam ao pé da letra. Fale de maneira direta e sem “enfeites”;
- Há pessoas que entram e saem do autismo/espectro e nunca saberão;
- Autistas estabelecem sim contato visual, tanto que chamá-los a distância muitas vezes é frustrante, pois não atenderão;
- Autismo não é e não faz parte do quadro de retardo mental, trata-se de um fator emocional e precisa de intervenção de Terapeuta Ocupacional, Neuros, Pedagogos, Profissionais de Educação Física, Psicólogos e Psiquiatras para o desenvolvimento da inteligência emocional;
- Um pessoa a cada cento e dez, possui autismo;
- Professores, Psicopedagogos, Neuropsicopedagogos não podem “laudar”/diagnosticar um aluno como autista ou fazer encaminhamentos, é de cunho apenas dos profissionais da saúde, sendo essas áreas educacionais. Para tais, confere apenas relatórios e registros de observação. Havendo desconfiança, a obrigação é passar ao setor de gestão escolar, para só então o AEE intermediar o diálogo com os responsáveis e orientar.
ÁLVARO E EU
Quero ressaltar aqui nesse “Especial Autismo – 02 de abril”, que para mim nada mudou com o diagnóstico do Álvaro… o amor foi o mesmo, cuidados um pouquinho mais acentuados, zelo também. Confesso que tive medo dele sofrer rejeição, mas isso foi substituído um belo dia, quando tive a honra de trabalhar lado a lado com a Maria Teresa Egler Mantoan que me disse:
“Os autistas têm a benção da honestidade… não sabem mentir. Quem permanece ao lado de um, é porque de fato notou isso e o ama. Não é a pessoa autista, é pessoa… não é o aluno autista, é aluno. E essa é a essência da coisa.” Conversa com Mantoan na S.E. Franco da Rocha – SP.
Isso foi lindo e sem sombra de dúvidas, carrego comigo. Família: viva um dia de cada vez e não crie expectativas, celebre as pequenas e grandes coisas. Professores: sejam os mesmos, pratiquem a equidade. Álvaro leu aos dois anos, escreveu também com dois, entende inglês, espanhol, e possui nível alfabético desde os seus 4 anos.
Finalizo aqui meu texto, e dedico para todos aqueles que lutam, defendem e amam acima de tudo a causa autista e a pessoa por trás do TEA. Dedico em especial à minha irmã Ivani, que não cansa de buscar o que é melhor para ele… e é claro, dedico ao responsável pelos melhores seis anos de minha vida, ao meu pedacinho de coração que pulsa fora do meu peito: Meu Álvaro.
Nice Oliveira, tia do menino lindo aí em cima dessa foto. ♥️Ah sim, Fundadora do Fique Ativo.
Respostas de 3
Ótimo conteúdo, verdadeiramente informativo! Apresenta devidamente o autismo e esclarece dúvidas e derruba mitos. Muito útil!
Ps. Que tia babona e mocinho mais lindo ♥
Muito obrigada, Beatriz!! Compartilhe também com a gente a história do Vini! ♥️
Muitas verdades nisso tudo. Muitas conquistas e muitos erros tentando acertar como mãe. Obrigada Nice.