Educação Física Escolar e a diversidade

Educação Física Escolar e a diversidade… tema interessante para ser difundido dentro de uma escola, não é? Mas será que fato isso têm ocorrido? Acompanhem uma análise minha para o Centro Universitário Claretiano sobre minha experiência acerca da diversidade, baseando-me no texto “O menino, o vento e a pipa” de Xico Bezerra, discorro sobre esse tema tão essencial para todo professor.

No meio do tempo, sol pleno, vento abundante. Ali estavam o menino, sua pipa e o vento alcoviteiro. No mesmo instante em que o menino dá linha a sua ave de papel colorido, ela vai se aproximando dos seus irmãos anjos que perambulam pelo céu e se encantam com o balouçar da pipa brincante. Se desaproximam da terra quente. É a dança alegre de um pedaço de papel, untado com cola de grude e amparado por talas de coqueiro em forma de cruz, que lhe dão sustentação para brigar contra a força do vento que a carrega para o alto. Na extremidade final daquele papel volante e acrobático, a rabiola, provedora do equilíbrio, ‘evitadeira’ das guinadas indesejáveis da pipa. Naquele instante, inexiste qualquer preconceito, todos são iguais. Não importa os pés descalços e o sorriso banguelo de quem tem o domínio sobre o objeto voador: aquele menino tem pleno e profundo conhecimento sobre seu brinquedo e dele faz o que bem quer, tendo o vento como cúmplice e amigo. Ali, se acabam as diferenças e tudo passa a ser igual, como igual é a luminosidade do sol para todos, pretos, brancos, meninos, meninas, ricos e pobres. A pipa é igual para todos que a veem.

Xico Bezerra.

Muito ouvimos acerca de diversidade e respeito, mas será que dentro dos muros da escola, através da sala de aula, vivenciamos de fato o respeito a tudo que é adverso? Sabemos o quão frágil são as políticas públicas a tudo que é diferente, e digo frágil pois muitas pessoas não estão preparadas emocionalmente as diversidades, sejam culturais, físicas, religiosas. 

Minha percepção sobre diversidade e respeito no qual trouxe o pensamento acima, se consolidou a partir de uma vivência pessoal ano passado, na prefeitura onde leciono. Fui convidada em meados de 2017, a compor o grupo de professores do atendimento educacional especializado, mesmo não possuindo a especialização na área, o convite veio devido a Educação Física, que é uma grande influenciadora no processo da inclusão. Confesso que fui resistente, justamente por não saber o que iria enfrentar pela frente, mesmo tendo em minha família, esquizofrênicos e um autista, mas dentro da escola, não fazia ideia de como proceder. 

Me armei emocionalmente, me coloquei em condições de defesa, uma para não ter apego em demasia, outra por achar que seria apenas entrar, atuar e sair. Até iniciar as visitações em sala para sondar, o envolvimento e sensibilidade vieram à tona, a cada história, a cada aula dada, e entre as histórias, me deparo com a de Júlia. Aluna recém-chegada no ensino fundamental, cinco anos, portadora de mielomeningocele lombar alta, usuária de cadeira de rodas, sempre trazia consigo a fala: eu posso andar. Mas, tal fala nunca foi observada, sempre que eu ia em sua sala e falava com a docente polivalente e os dois especialistas, a fala era a mesma, que era incômodo tê-la em sala, saber que está de fralda, ter que manter a sala com espaço pra ela se locomover, ter a dificuldade em ir até a quadra, logo a quadra que exige movimentos e ela lá, parada em cadeira. Ela é a diversidade, mas o respeito em sua condição está longe em existir. Ao falar com a família, descobri dois meses depois de conhecê-la, que sim, sua fala não era aleatória, era real: Júlia andava, a cadeira era mais uma segurança pois as pernas cansavam rapidamente, mas que ela utilizava goteira e etc. Aquilo me impulsionou para que ela tivesse por fim, os mesmos direitos nas aulas, que fossem respeitadas como pessoa, que aceitassem a condição dela, o que não foi como o esperado… vieram os entraves, de que andava devagar, que exigiria mais atenção da professora, que as aulas de educação física não poderiam deixar de conter o dinamismo já que sua locomoção não era a ideal. 

Infelizmente, nem todos mudam o olhar, aceitam as diferenças… fiz a diferença na vida da Júlia, aprendeu a pular amarelinha, a ir sozinha ao banheiro, andar pela sala sem auxílio ou suporte, organizar seus pertences, enfim, a fiz ser respeitada a partir do momento que aceitei sua diversidade. Há muitas Júlias em sala de aula, sejam as Júlias com dialetos indígenas, portadoras de HIV, com transtornos mentais não especificados, a importância em se ter uma sensibilidade acerca das diferenças, fará de tais diversidades ferramentas de cidadania entre e fora os muros da escola. O texto O Menino, o Vento e a Pipa”, nos mostra em pequenos gestos, o poder da diversidade, pelo simples fato de redirecionar o olhar, a história da Júlia acima contada por mim, trouxe para todos que a cerca, a possibilidade e a lição de darmos um passo de cada vez, e a cada passo, valorizar o percurso e respeitá-lo, pois, é aí, no que é diverso, que se esconde a mágica do respeito e da aprendizagem de vida. 

Espero que meu relato sobre a Educação Física Escolar e a diversidade, auxilie e esclareça para você, professor que agora lê, o quão importante é se fazer presente. Quer opinar algum tema? Fale conosco ou siga-nos no LinkedIn e Instagram. Aproveite e passe em nossa aba com materiais exclusivos! Até!

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